MEL: RICO ALIMENTO COM PROPRIEDADES TERAPÊUTICAS
Dentre os produtos fornecidos pelas abelhas, o mel é sem dúvida o mais conhecido. O mel é o produto alimentício produzido pelas abelhas a partir do néctar das flores. As abelhas colhem o néctar e o transformam combinando-o com substâncias salivares específicas para em seguida armazenarem-no nos favos da colmeia. Seu aroma, sabor, coloração, viscosidade e propriedades terapêuticas estão diretamente relacionados com o tipo de florada que o originou e também com a espécie de abelha que o produziu. Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, a maioria dos méis puros acabam cristalizando com o tempo.
O mel é um produto que contém diversos sais minerais e vitaminas essenciais à nossa saúde. É ainda um alimento de alto potencial energético e de conhecidas propriedades terapêuticas. Além disso, é um dos poucos alimentos de reconhecida ação antibactericida, que contém em proporções equilibradas: fermento, vitaminas, minerais, ácidos e aminoácidos.
Apesar de o homem fazer uso do mel para fins terapêuticos desde tempos remotos, sua utilização como um alimento único e de características especiais deveria ser o principal atrativo para o seu consumo.
A população brasileira, de maneira geral, considera o mel mais como um medicamento do que como alimento, passando a consumi-lo apenas nas épocas mais frias do ano, quando ocorre um aumento de casos patológicos relacionados aos problemas respiratórios. No Brasil seu consumo como alimento ainda é muito baixo (aproximadamente 300 g/habitante/ano), principalmente ao se comprar com países como os Estados Unidos e os da Comunidade Européia e África, que podem chegar a mais de 1kg/ano por habitante.
A utilização do mel na nutrição humana não deveria limitar-se apenas a suas propriedades terapêuticas ou por sua característica adoçante, como excelente substituto do açúcar, mas principalmente por ser um alimento de alta qualidade, rico em energia e inúmeras outras substâncias benéficas ao equilíbrio dos processos biológicos de nosso corpo.
Além de sua qualidade como alimento, ao mel são atribuídas várias propriedades terapêuticas. Dentre as inúmeras propriedades terapêuticas atribuídas ao mel pela medicina popular e que vêm sendo comprovadas por inúmeros trabalhos científicos, a sua atividade antimicrobiana talvez seja seu efeito terapêutico mais ativo (Sato et al., 2000).
Segundo pesquisas realizadas por Adcock (1962), Molan (1992) e Wahdan (1998), os responsáveis por essa habilidade antimicrobiana são os fatores físicos, como sua alta osmolaridade e acidez, e os fatores químicos relacionados com a presença de substâncias inibidoras, como o peróxido de hidrogênio, e substâncias voláteis, como os flavonóides e ácidos fenólicos.
De maneira geral, destinam-se ao mel inúmeros efeitos benéficos em várias condições patológicas. Propriedades antissépticas, antibacterianas também são atribuídas ao mel, fazendo com que ele seja utilizado como coadjuvante na área terapêutica em diversos tratamentos profiláticos (Stonoga & Freitas, 1991).
Sua propriedade antibacteriana já foi amplamente confirmada em diversos trabalhos científicos (Adcock, 1962; White & Subers, 1963; White, Subers & Schepartz, 1966; Smith et al., 1969; Dustmann, 1979; Molan et al., 1988; Allen et al., 1991; Cortopassi-Laurino & Gelly, 1991), como também sua ação fungicida (Efem et al., 1992), cicatrizante (Bergman et al., 1983 e Efem, 1988; Green, 1988 e Gupta et al., 1993) e promotora da epitelização das extremidades de feridas (Efem, 1988). Popularmente, ao mel ainda se atribuem outras propriedades como antianêmica, emoliente, antiputrefante, digestiva, laxativa e diurética (Veríssimo, 1987).
Atualmente alguns países, como a França e a Itália já vêm objetivando a produção de mel com propostas terapêuticas específicas, como nos tratamentos de úlceras e problemas respiratórios (Yaniv & Rudich, 1996).
Apesar de a medicina popular atribuir ao mel inúmeras propriedades curativas, sendo muitas delas já comprovadas por pesquisadores do mundo inteiro, a sua utilização para fins terapêuticos deve ser indicada e acompanhada por apiterapeutas ou profissionais qualificados.
ApisLuz Apiterapia Holística
Tiago Guardia de Souza e Silva
Referências Bibliográficas
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